Excelentíssimo Ministro da Educação Sr
Aloizio Mercadante
Vimos nesta
histórica oportunidade agradecer seu reconhecimento pelo nosso bom trabalho
realizado, lembrando porém que somos a exceção enquanto na verdade, deveríamos
ser a regra.
Este bom resultado
que nossa escola alcançou tem muito a ver com o respaldo que a comunidade ainda
nos dá. Sim, nos falta muitas vezes apoio financeiro do Estado, e o que a
escola melhora em sua parte física vem do dinheiro das festas que temos de
fazer e, apesar de nosso baixo salário e da falta de uma melhor estrutura
física, ainda conseguimos uma boa qualidade de ensino.
Mas a escola vem ano após ano perdendo
sua autoridade e nossa classe o respeito. Quando questionamos nossos alunos
quanto ao que querem ser no futuro e um deles responde “professor”, vira motivo
de chacota entre os colegas. Sem contar o quanto é lamentável ver tantos amigos
que fazem um trabalho sério ficando doentes pela realidade vivida em sala de
aula, porque parece que os alunos tem todos os direitos e nós, estamos sempre
errados.
Como assistimos dias atrás, um aluno
escreve em seu blog que o professor teve uma atitude extrema como a de bater
com o livro na mesa e ele é afastado, mas ninguém fala da atitude do aluno em
expor esse professor ou explica a circunstância que fez o professor chegar ao
seu limite. A bagunça, o descaso e a falta de interesse do aluno parece não ser
importante no contexto atual. Aliás, reprovação nem pensar, só se pensa em
passar os alunos para que o Estado contemple estatísticas internacionais.
Infelizmente ninguém lembra que alguns alunos merecem reprovar pelo simples
fato de se negar a fazer qualquer atividade o ano inteiro.
Queremos ministro, poder andar com a
cabeça erguida, trabalhar e enfrentar tantos desafios com a tranquilidade de
sabermos que temos uma carreira com plano de cargos e salários decentes, o que
não está acontecendo em nosso Estado.
Imagine como será a educação daqui a 20
anos se ela continuar decaindo de sua qualidade como está? Afinal, como pode
uma pessoa formada no ensino médio dar aula em nossas classes? Onde está a
valorização pelos nossos quatro anos de faculdade, nas especializações e cursos
de aperfeiçoamento pagos com nossos recursos? Como pode pessoas com formações diversas
em qualquer outra área entrar numa classe para lecionar? Será que também nós,
com nosso diploma de professor podemos atender como médicos, enfermeiros,
engenheiros ou dentistas? Porque só nossa profissão é assim bagunçada?
Bons professores
estão se aposentando! Novos professores sem formação específica estão
preenchendo esses contracheques. Só nos perguntamos se vocês deixariam isso
acontecer se a lei obrigasse os filhos dos políticos a terem que estudar em
escolas públicas.
Aqui em Antônio
Carlos, os filhos dos prefeitos e dos vereadores foram ou ainda são nossos
alunos. Temos certeza que se a lei obrigasse muitos políticos tentariam uma
vaga aqui para seus filhos. Mas até quando vamos conseguir manter nossa
qualidade?
Então Ministro, não
custa pedir ao senhor o que gostaríamos de gritar ao nosso governador: faça com
que nosso país reavalie com respeito, eficiência e rapidez o plano de carreira
do magistério público. O nosso, ou melhor, o plano de carreira do magistério de
nosso Estado, encontra-se achatado, nosso salário defasado e a estrutura física
de nossa escola precária.
Ficamos felizes em
receber sua visita, mesmo que dessa forma menos calorosa, mas ficamos
indignados por lembrar que aquele que nos representa diante da nação, nosso
excelentíssimo governador, não fez o mesmo, nem se quer se deu ao trabalho de
vir nos conhecer. E ele mora bem mais perto...
Respeitosamente, os professores da E.E.B. Altamiro Guimarães.
(Carta desabafo de professores ao
ministro da educação: entregue durante sua visita a uma escola de Antônio
Carlos/SC)